A SITUAÇÃO DOS SEMINÁRIOS DA FRANÇA JÁ NO SÉCULO XIX ! (Por: Dom Delate)


 

Na vida do Rev. Padre Dom GUÉRANGER, escrita por seu sucessor na direção de Solesmes, Dom DELATTE, encontramos algumas menções que mostram bem a situação lamentável do ensino eclesiástico neste primeiro quarto do século XIX. Após a tormenta revolucionária, a Igreja erguia as ruínas como podia: essa empreitada estava apenas começando, e a encíclica de Leão XIII marca precisamente o ponto de chegada dessa primeira etapa.


Em 1822, Dom GUÉRANGER fez um ano de filosofia em Le Mans, e Dom DELATTE observa a esse respeito:

“O desprezo em que se mantinha a velha escolástica, o descrédito do cartesianismo, a indecisão de um pensamento filosófico, solicitado ao mesmo tempo pelas ousadias de um sensualismo grosseiro, pelas objeções do ceticismo, pelas fantasias alemãs, pela variedade das teorias contraditórias, deixavam a razão sem apoio, sem direção, sem estabilidade... Um curso de filosofia era, com frequência, apenas uma coletânea incoerente de teses sem vínculo, exposições flutuantes, objeções sem vida, refutações sem propósito, onde os jovens espíritos não viam mais que sombras... O ensino filosófico dos seminários não escapava completamente a essa fraqueza. Aos sessenta e sete alunos agrupados em torno de sua cátedra, o professor de filosofia de Le Mans havia dado como texto as Institutiones philosophicae de Lyon, um manual em três pequenos volumes, de latim suficiente, mas com um sabor muito cartesiano, cujo autor, em 1792, havia incorrido na censura do Índex por causa do jansenismo implícito em suas Institutiones theologicae."

No ano seguinte, Dom GUÉRANGER entrou para o seminário maior em Teologia: 
 
“No seminário maior, naquela época, a história eclesiástica e a liturgia, o direito canônico e a teologia pastoral ou ascética, não tinham professores titulares. Conhecia-se apenas de nome Santo Tomás e Suárez. A disciplina e a piedade deixavam um pouco a desejar. Prosper GUÉRANGER aplicou-se conscientemente ao estudo da teologia, que lhe parecia austera, quase severa. Os métodos de ensino faziam dela uma ciência de pura memória, sem visão de conjunto, sem unidade sistemática, portanto, sem grande prazer intelectual.”

(Prosper GUÉRANGER, Abade de Solesmes, por um monge beneditino, Dom DELATTE, 1901 — Vol. 1, p. 13 e 21 — Plon-Nourrit, Editor.)


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