Como ler a Sagrada Escritura? (Santo Tomás de Aquino)
SUMA TEOLÓGICA
I PARTE
QUESTÃO I
ARTIGO 10: SOLUÇÃO
"A Sagrada Escritura, pelo modo mesmo da sua locução, transcende todas as ciências; pois, com a mesma expressão, assim narra o feito como expõe o mistério". (São Gregório Magno, XX Moralium, c. 1)
O
autor da Sagrada Escritura é Deus, em cujo poder está dar significação
não só às palavras, o que também o homem pode fazer, mas ainda às
próprias coisas. Por isso, além do que se dá com todas as ciências, nas
quais as palavras têm significação, esta ciência tem de próprio que as
coisas mesmas significadas pelas palavras, por sua vez, também
significam. Ora, a primeira significação, pela qual as palavras exprimem
as coisas, é a do primeiro sentido, que é o histórico ou literal. E a
significação pela qual as coisas expressas pelas palavras têm ainda
outras significações, chama-se sentido espiritual, que se funda no
literal e o supõe. Mas, este sentido espiritual tem três subdivisões.
Pois, como diz o Apóstolo (Heb 7, 19), a lei antiga é figura da nova e
esta, por sua vez, como diz Dionísio, o é da glória futura (Ecclesiastica Hierarchia);
e, demais, na lei nova, as coisas feitas pelo chefe são sinais das que
nós devemos fazer. Ora, quando as coisas da lei antiga significam as da
nova, o sentido é alegórico; quando as realizadas em Cristo, ou nos que o
que significam, são sinais das que devemos fazer, o sentido é moral; e
quando significam as coisas da glória eterna, o sentido é anagógico.
Mas
como o sentido literal é o que o autor tem em vista, e o autor da
Sagrada Escritura é Deus, cuja inteligência tudo compreende
simultaneamente, não há inconveniente, como diz Agostinho, se, mesmo no
sentido literal, uma expressão da Sagrada Escritura tem vários sentidos (XII Confessionum).
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