DOS SENTIMENTOS QUE OS CATÓLICOS DEVEM TER POR NOSSO SANTO PADRE, O PAPA
Tradução por: Gabriel Sapucaia
Por: Mons. Henri-Delassus (autor do livro “A Conjuração Anticristã” e membro da Sodalitium Piano, polícia secreta anti-modernismo de São Pio X)
O Padre Faber os expôs admiravelmente no sermão que pregou na igreja do Oratório de Londres, no dia em que foram inauguradas as orações pelo Papa Pio IX, ordenadas por ocasião da invasão dos Estados Pontifícios.
O santo religioso começou dizendo que Nosso Senhor quis perpetuar Sua presença entre nós, não apenas pelo divino sacramento do altar, mas também pelos pobres e pelas crianças, nos quais Ele quis se personificar.
Então, ele disse: "É pela mesma razão que Jesus nos deixou o Papa. O Sumo Pontífice é a terceira presença visível de Jesus entre nós, uma presença de ordem mais elevada, de sentido mais profundo, de importância mais imediata e de natureza mais exata do que Sua presença nos pobres e nas crianças.
O Papa é o Vigário de Jesus Cristo na terra; ele goza, entre os monarcas da terra, de todos os direitos e de toda a preeminência soberana da santa Humanidade de Jesus. Nenhuma coroa pode estar acima da sua: por direito divino, ele não pode ser súdito de ninguém. Qualquer tentativa de sujeitá-lo é uma violência e uma perseguição. Ele é rei em virtude de seu ministério, pois está mais próximo do Rei dos reis do que qualquer outro rei. Ele é a sombra visível que emana do Chefe invisível da Igreja no Santíssimo Sacramento. Seu ministério é uma instituição que emana das mesmas profundezas do Coração sagrado de Jesus. É uma manifestação do mesmo amor, um desenvolvimento do mesmo princípio. Com que cuidado, com que respeito, com que fidelidade não devemos corresponder a esta graça tão magnífica, a este amor maravilhoso que nosso amável Salvador nos mostra na escolha e na instituição de Seu Vigário na terra!
A conclusão a ser tirada disso é de suma importância: a devoção ao Papa forma uma parte essencial da piedade cristã. Não se trata de um tema alheio à vida espiritual, como se o Papado estivesse relacionado apenas ao governo da Igreja e fosse apenas uma instituição relativa à sua vida exterior, um ministério divinamente apropriado ao governo eclesiástico. É, ao mesmo tempo, uma doutrina e uma devoção; é parte integrante do plano de Nosso Senhor. Jesus se encontra no Papa de uma maneira ainda mais elevada do que nos pobres e nas crianças. O que é feito ao Papa é feito a Jesus próprio. Tudo o que há de real, tudo o que há de sacerdotal em Nosso Senhor está reunido na pessoa de Seu Vigário, para receber nossas homenagens e nossa veneração. Seria tão difícil ser um bom cristão sem devoção à santa Virgem quanto sem devoção ao Papa, e pela mesma razão, em ambos os casos. A Mãe de Jesus Cristo e Seu Vigário fazem igualmente parte de Seu Evangelho.
Peço-lhes que tenham a sério essa verdade, especialmente no tempo presente. Sem dúvida, grandes consequências resultariam, para o bem da religião, da clara visão dessa verdade de que a devoção ao Papa é uma parte essencial da piedade cristã.
Se o Papa é a presença visível de Jesus, unindo em si a jurisdição espiritual e temporal que pertence à humanidade santa do Salvador, e se a devoção ao Papa é um elemento indispensável de toda santidade cristã, de tal modo que sem ela não pode haver piedade sólida, é muito importante para nós verificarmos quais são nossas disposições em relação ao Vigário de Jesus Cristo e examinarmos se nossos sentimentos habituais são aqueles que Nosso Senhor exige. Desejo tratar desse assunto apenas do ponto de vista da piedade, pois considero esse ponto de vista muito importante. Minha posição e meu ministério, assim como meus gostos e sentimentos, me obrigam a considerar a questão dessa maneira. Quando a Igreja está em paz, entende-se que os católicos não compreendem como deveriam a necessidade da devoção ao Papa e o quanto ela é essencial à piedade cristã. Eles podem pensar que sua responsabilidade é apenas ir à igreja, frequentar os sacramentos e cumprir rigorosamente seus exercícios espirituais particulares; pode parecer-lhes que não têm nada a ver com aquilo que consideram do âmbito exclusivo do governo eclesiástico. Essa é, sem dúvida, uma lamentável ilusão em todos os tempos, e, em todos os tempos, a alma deve sofrer por causa dela, pois ela priva a alma de graças mais elevadas e a impede de progredir na perfeição. É um caráter invariável dos santos, em todas as épocas, ter uma viva e sensível devoção à Santa Sé. Mas, quando vivemos em tempos de dificuldades e aflições para o Sumo Pontífice, devemos compreender imediatamente com que rapidez a piedade prática declina, como consequência necessária de falsas visões sobre o Papado ou de uma conduta fraca em relação ao Papa. Ficamos então surpresos ao descobrir o quanto uma nobre fidelidade ao Papa está intimamente unida à nossa generosidade para com Deus, assim como as liberalidades de Deus para conosco. Devemos compartilhar, devemos considerar como um dever de nossa piedade particular compartilhar calorosamente as simpatias da Igreja para com seu Chefe visível, ou Deus não mais nos mostrará simpatia. Em cada época, como em cada vocação, a graça é dada apenas sob certas condições. Durante as épocas em que Deus permite que Sua Igreja seja atacada, na pessoa de seu Chefe visível, a obra da Santa Sé deve ser considerada como uma condição implícita de todo progresso na graça.
Sobre quais fundamentos deve, então, estar baseada a nossa devoção ao Papa?
Primeiramente e acima de tudo, no fato de que ele é o Vigário de Jesus Cristo. Seu ministério visa ao próprio cumprimento dos desígnios que trouxeram a presença visível de Nosso Senhor à terra. Sua jurisdição se estende sobre nós como a do próprio Salvador. A grandeza formidável do ministério pontifício é outro motivo para nossa devoção ao Papa. Quem pode contemplar sem tremer uma responsabilidade tão terrível? Milhões de consciências dependem dele, milhares de causas aguardam sua decisão. Os interesses que ele deve regular são de uma importância superior a todos os outros, pois são os interesses eternos das almas. Um único dia do governo da Igreja contém mais consequências graves do que um ano de governo dos mais poderosos impérios da terra. Como o Sumo Pontífice precisa apoiar-se em Deus durante esses longos dias! Com que ansiedade ele deve esperar as contínuas inspirações do Espírito Santo para distinguir a verdade em meio ao barulho de tantas contradições ou na obscuridade de tais distâncias! A pomba que sussurrava baixinho ao ouvido de São Gregório não é o símbolo do Papado?
Em meio a esses trabalhos gigantescos, talvez os mais ingratos e menos apreciados de todos os trabalhos da terra, quão tocante é a fraqueza do Sumo Pontífice, como o estado de fraqueza de seu amado Mestre! Seu poder está na paciência, sua majestade na longanimidade. Ele é a vítima de todas as insolências, de todas as perversidades que vêm de cima. Ele é, verdadeiramente, o servo dos servos de Deus. Os homens podem carregá-lo de injúrias, assim como cuspiram no rosto do Mestre; podem humilhá-lo e insultá-lo com seus soldados, como Herodes fez com o Salvador; podem sacrificar seus direitos às exigências momentâneas de sua própria covardia, assim como Pilatos sacrificou outrora Nosso Senhor. Pode haver nos governos covardias cuja profundidade nenhuma outra covardia humana poderia alcançar, e é especialmente para sofrer essas baixezas que o Vigário de Jesus Cristo é destinado. Homens que têm coroas de ouro na cabeça invejam essa cabeça coroada de espinhos; murmuram contra essa dolorosa soberania, pela qual ele está pronto a dar sua vida, porque ela lhe foi confiada por seu Mestre e não é sua propriedade. A cada geração que se sucede, Jesus, na pessoa de Seu Vigário, encontra-se diante de novos Pilatos e novos Herodes. O Vaticano é menos um palácio do que um Calvário. Quem poderia considerar essa tocante grandeza da fraqueza e compreendê-la como cristão sem ser movido às lágrimas?
Quando estamos doentes, um pensamento desagradável às vezes se insinua em nosso coração: pensamos que Nosso Senhor não santificou essa cruz carregando-a Ele mesmo. Mas Ele não suportou e abençoou todas as dores corporais nas inumeráveis sofrimentos e nas misteriosas crueldades da Paixão? No entanto, Ele não sofreu as incomodidades da velhice; o peso dos anos nunca enrugou Seu belo rosto, a luz de Seus olhos nunca se obscureceu, a firme virilidade de Sua voz nunca enfraqueceu; não convinha que a honrosa decadência da idade se aproximasse Dele. Mas Ele quer ser velho nos Pontífices que O representam; a maioria de Seus Vigários está curvada pelos anos. Vejo aí um novo exemplo de Seu amor, uma outra maneira de prover à diversidade do nosso amor por Ele. Ninguém, na Judeia, pôde honrá-Lo com esse amor particular que faz a glória do homem de bem que chega à velhice. A homenagem prestada aos anciãos é uma das mais belas generosidades da juventude; mas a juventude da Judeia não pôde gozar da felicidade de testemunhar esse tipo de respeito a Jesus servindo-O. Agora, ao contrário, na pessoa de Seu Vigário, cuja solicitude é tornada mil vezes mais tocante e a fraqueza mais comovente por causa de sua idade, podemos nos aproximar de Jesus com novos ministérios de amor. Uma nova maneira de amá-Lo é oferecida ao ardor e à ternura de nossa afeição. Neste fato, neste conflito de um ancião desarmado com as grandezas, com os privilégios, com a falsa sabedoria das jovens e orgulhosas gerações que se levantam, há certamente uma nova fonte de nossa devoção ao Papa.
Nada pode ser mais venerável aos olhos da fé do que a maneira como o Papa representa Deus. É como se o céu estivesse sempre aberto sobre sua cabeça, e a luz descesse sobre ele, e ele visse, como Estevão, Jesus sentado à direita do Pai, enquanto o mundo range os dentes contra ele com um ódio, com uma raiva sobre-humana, que muitas vezes deve surpreender a ele mesmo. Mas, aos olhos do incrédulo, o Papado, como todas as coisas divinas, não passa de um espetáculo lamentável e vergonhoso, que só pode provocar a ira e o desprezo. Esse desprezo mesmo deve tornar-se o objeto de nossa devoção, pois devemos nos dedicar a fazer dele uma reparação constante.
Devemos honrar o Vigário de Jesus Cristo com uma fé cheia de amor e um respeito pleno de confiança e simplicidade. Não devemos permitir-nos nenhum pensamento irreverente, nenhuma suspeita covarde, nenhuma incerteza pusilânime sobre o que concerne à sua soberania, seja espiritual, seja temporal, pois sua realeza temporal é, em si mesma, uma parte de nossa religião. Não devemos permitir-nos a deslealdade desrespeitosa de distinguir, nele e em seu ministério, entre o que podemos considerar humano e o que podemos reconhecer como divino. Devemos defendê-lo com toda a constância, com toda a energia, com toda a dedicação, com toda a amplitude que o amor sabe empregar para defender as coisas que lhe são sagradas. Devemos ajudá-lo com orações desinteressadas; devemos servi-lo com uma submissão plena, cordial, alegre, e, especialmente nesses dias abomináveis de acusações e blasfêmias, com a mais brilhante, a mais cavalheiresca e a mais intrépida fidelidade. Trata-se dos interesses de Jesus Cristo; não devemos perder tempo nem nos enganar de bandeira.
Houve épocas, nas provações da Igreja, em que a barca de Pedro pareceu afundar nas sombrias profundezas do mar. Há páginas da história que nos tiram o fôlego quando as lemos, e que param os batimentos de nosso coração, embora saibamos bem que a página seguinte nos contará algum novo triunfo após essas humilhações. Estamos em uma dessas épocas tristes: é um tempo penoso de suportar; mas nem a indignação cumpre as obras da justiça de Deus, nem a amargura nos dá acesso a Ele. Ao contrário, há uma força poderosa na aflição do fiel; é uma força que o mundo temeria, se pudesse apenas discerni-la ou compreendê-la. O silêncio da Igreja atrai os olhares dos próprios anjos que a contemplam na expectativa dos eventos futuros. Devemos também esperar na paciência tranquila da oração. Os blasfêmias da incredulidade podem despertar nossa fé, as hesitações dos filhos da Igreja podem atormentar nossos corações; mas que nossa dor não misture amargura à sua santidade. Fixemos nossos olhares em Jesus, e cumpramos o duplo dever que Seu amor nos impõe hoje.
Digo o duplo dever, pois há dias em que Deus espera a profissão aberta de nossa fé e a intrépida declaração de nossa fidelidade; há dias também em que o sentimento de nossa fraqueza exterior nos leva a nos apoiar mais do que nunca na oração interior, e esse é o nosso segundo dever. A profissão aberta de nossa fé teria pouco valor sem a oração interior, mas penso que a oração interior seria quase tão inútil sem essa profissão aberta de nossa parte. Muitas virtudes crescem em segredo; a fidelidade só pode prosperar aos raios do sol e sobre as colinas.
Graças à inefável permissão da misericórdia de Jesus, vamos elevar ao seu trono sacramental o Chefe invisível da Igreja, a fim de podermos socorrer nosso Chefe visível, Seu Vigário amado e sagrado, nosso amado e venerável Pai. Não preciso dizer-lhes o que vocês devem pedir, nem como devem orar; mas tenho um pensamento que muitas vezes me preocupou e que quero lhes comunicar ao terminar: Tenho a confiança invencível de que aqueles que tiverem amado especialmente na terra o Papa que definiu o dogma da Imaculada Conceição serão bem acolhidos no céu.
Semaine Religieuse de Cambrai, 6 de julho de 1912.
É evidente que este texto deve ser lido pensando que o Padre Faber ensina em uma época feliz em que a Igreja está em ordem. É evidente que, em nossa época de igreja conciliar não católica, tais pensamentos tão sobrenaturais não se aplicam aos "papas" usurpadores, verdadeiros Anticristos. Eles são mesmo, neste caso, objeto de acusação. Este texto deve ser para nós a referência do que acreditamos e do que devemos pedir em nossas orações.
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